domingo, 15 de janeiro de 2012

Cicatriz

Uma hora a gente sempre bate a testa
Se não quebra a cara na parede
Quebra a parede com a cara

O mais bonito nisso tudo
é a cicatriz que fica
Pra lembrar que a parede é de vidro
Pra lembrar que ninguém é de aço
Pra lembrar que querer ser perfeito
é deixar que o perfeito lhe escape dos braços

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sem alça


E a bolsa guardada
guardava tanta coisa
A carteira nova
da mãe daquela moça
que ainda guardava
dobrava a velha carta
que havia ganhado
do seu ex-namorado
que ainda sofria
com o fim do noivado
com a moça da bolsa
que o havia deixado

E a bolsa guardada
guardava tanta coisa
a nota da moça
que havia viajado
sozinha e perdida
com um pé calejado
de tanto fugir
de um homem transtornado

E a bolsa guardada
guardava tanta coisa
o creme vencido
e o enfeite que o amigo
havia doado
àquela bela moça
que por um impulso
perdeu todo o juízo
ao ver que o mundo
não era um paraíso

E a bolsa guardada
guardava tanta coisa
o auto-epitáfio
da moça amedrontada
que ainda escondia
a marca da pedrada
sob seus cabelos
com uma fita listrada

E a moça guardada
guardara tanta bolsa
A bolsa azul
que vivia fechada
A bolsa amarela
por dentro decorada
em tons tão escuros
com cor preta espalhada
A bolsa vermelha
deixada ali de lado
Sua bolsa branca
de tecido rasgado
até camuflado
junto a um pano desbotado

Tanta coisa numa bolsa
Tanta bolsa pra uma moça
Tanta moça numa bolsa
Uma moça,
Uma bolsa.